Esportes

Rebeca Andrade já pensou em desistir, mas foi convencida pela mãe a continuar

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Eram pouco mais de 15h desta terça-feira (27), e dona Rosa Santos não sabia ainda o que tinha acontecido com Simone Biles na competição de ginástica nas Olimpíadas de Tóquio-2020.

Logo que soube que a norte-americana desistiu da final por equipes para “pensar em sua saúde mental”, Rosa reconheceu que a pressão que existe sobre as competidoras é algo sobre-humano e só quem convive com as meninas sabe o que elas passam.

A própria filha de Rosa já cogitou desistir, mas foi sempre convencida pela mãe a continuar.

“É uma situação muito delicada, é muita pressão”, diz a mãe de Rebeca Andrade, que vai participar de três finais olímpicas agora, com o peso de buscar uma inédita medalha que a ginástica feminina brasileira tanto sonha.

Hoje, a filha de dona Rosa está mais madura. Hoje pronta para o pódio olímpico, a menina teria interrompido a caminhada no esporte não fossem as conversas com a mãe,

“Todos que falam sobre a gente costumam focar nas dificuldades financeiras que tivemos”, afirma Rosa. “Mas eu sempre digo que, na minha família, nós sempre fomos muito abertos, sempre conversamos muito, trocamos ideias, respeitamos as opiniões e isso é fundamental para a trajetória de Rebeca no esporte.”

“Sempre procurei saber da Rebeca o que a incomodava”, explicou dona Rosa, como se fosse mais uma psicóloga do que mãe. “Sempre incentivei meus filhos a por os problemas para fora, a expor o que sentiam. E, com a Rebeca, não foi diferente”.

No começo dos treinos da menina, em Guarulhos, na Grande São Paulo, tudo era festa, até vir a oportunidade de se aprofundar na ginástica: “Ela estava muito empolgada, mas, quando recebeu o convite para ir a Curitiba, ela me olhou e disse: ‘Você não vai me deixar ir, não é?’”.

“Eu respondi que eu iria primeiro conhecer o local dos treinos, ia conhecer todo mundo e que seria bom ela seguir os treinos, sim. E então houve momentos em que ela me ligava do Paraná e dizia que queria desistir de tudo, que não conseguia realizar os exercícios. Chorando, ela dizia: ‘Quero voltar para casa’. E eu respondia: ‘Deixa eu pensar, amanhã conversamos de novo’.”

E no dia seguinte, a menina já não reclamava mais dos treinos dados pela professora Kelly Kitaura. “Eu falava: ‘Tenta mais um pouquinho, fica mais uma semana’. Acho que eu agia como uma psicóloga. Se eu ouvisse só o coração de mãe, falaria para ela voltar na hora.”

Em outros momentos, Rebeca reclamava que o técnico Chico tinha feito cara feia para ela durante os rigorosos exercícios.

“E eu argumentava com ela que a cobrança faz parte dos treinos. É como se o Chico fosse um professor que cobra seus alunos. E ela se tranquilizava, porque, fora dos ginásios, o Chico representava a figura do pai que ela não teve em seu dia-a-dia. Eu agradeço muito ao Chico por tudo o que ele fez e faz pela minha filha.”

Rebeca se segurava mais um pouco então. “E no dia seguinte me ligava toda sorridente. Eu dizia: ‘Ué, você não quer vir mais embora?’. E ela toda feliz comentava que estava melhor.”

Essa variação de humor só se tornou mais séria, quase intransponível, quando vieram as contusões e cirurgias. As operações de joelho. Então, dona Rosa sentiu o coração balançar. Pedir uma palavra a Deus já parecia não bastar. Foram tempos difíceis, de sofrimento e dor.

“Ela me dizia: ‘Mãe, eu não consigo mais, eu não quero mais’. E nessa hora, no Rio de Janeiro, nós choramos muito. Juntas. Ela achava que não suportaria os treinos após a cirurgia, e eu só falei para ela tentar primeiro, antes de simplesmente desistir. E ela foi pegando confiança. E o trabalho dos psicólogos da equipe ajudou e muito nessa volta.”

A mãe de Rebeca diz também que as conversas com a técnica Kelly Kitaura foram proveitosas, pois a treinadora escutava muito os seus conselhos. Afinal, Kelly tinha vários atletas, mas Rosa tem a experiência de ser mãe de sete filhos. “Depois da Olimpíada de 2016, a Kelly e eu conversamos muito. E uma agradeceu à outra pela troca de ideias e pelos conselhos trocados.”

Essa conversa constante entre técnicos e pais pode ser o fator que determina uma vitória ou uma derrota, ou uma boa exibição ou uma apresentação truncada sobre o tapete mágico das ginastas.

O que aconteceu com Simone Biles nesta terça em Tóquio é muito mais comum do que se imagina no mundo restrito de treinos intensos e exigências incomuns para a maioria dos atletas de outras modalidades.

Mônica dos Anjos foi a treinadora que fez os primeiros testes com Rebeca Andrade, em Guarulhos. Ela, que é técnica e árbitra internacional, esteve recentemente com a ginasta brasileira na competição no Rio de Janeiro, antes do embarque da equipe para a capital japonesa.

“Ela está mais madura, pronta para um grande resultado. Eu fico emocionada de pensar que ela começou comigo e que está próxima de conseguir uma medalha que esperamos há tanto tempo. E como fui ginasta também, sei do peso que as atletas carregam na mente e no corpo.”

Por isso, Mônica sentiu que havia algo errado com Simone Biles nesta terça, quando a norte-americana iniciava a competição. “Quando ela saltou, deu para ver que ela parou um pouquinho no ar, antes de começar a girar. Ela se perdeu na rotação. E esse tipo de lapso acontece principalmente no feminino. Durante anos se treina um movimento e, de repente, você se esquece, o corpo não quer mais executar aquilo.”

Um cansaço mental? Uma repetição insana? “Olha, eu sei exatamente o que aconteceu, porque já ocorreu comigo. Eu me perdi no ar, achei que tinha feito uma pirueta e meia e fiz só meia volta. Uma outra vez, a Danielle Hypolito foi fazer a última diagonal no Mundial e parou. E disse para a técnica: ‘Georgette. eu me perdi…’. O que acontece é que simplesmente parece que você não sabe mais onde está. É isso o que acontece.”

Provavelmente foi o que ocorreu com Simone Biles.

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